D. Pedro I e Inês de Castro: O Amor que Desafiou a Morte
- João Lage
- 4 de jun.
- 3 min de leitura
Entre os bosques de Coimbra e os ecos eternos da Quinta das Lágrimas, ecoa uma das histórias de amor mais trágicas e lendárias da História de Portugal — e do mundo. É a história de Inês de Castro, mulher de sangue nobre, de paixão proibida, e de um destino que a coroou rainha... depois da morte.
A Nobreza Bastarda de Inês
Inês de Castro nasceu na Galiza, entre 1320 e 1325. Era filha ilegítima de Pedro Fernandes de Castro, conhecido como “o da Guerra”, e de uma dama portuguesa, Aldonça Suárez de Valadares. Carregava no sangue a linhagem de reis castelhanos, ainda que por ramos laterais e ilegítimos — e era prima em terceiro grau daquele que viria a ser o seu grande amor: D. Pedro, futuro Rei de Portugal.
Criada no castelo de Albuquerque, Inês cresceu entre sombras nobres e intrigas políticas. A sua vida daria o tom de uma ópera, mas os atos mais dramáticos ainda estavam por vir.
O Encontro de D. Pedro I e Inês de Castro
Inês chega a Portugal em 1340, como dama de companhia de D. Constança Manuel, noiva do príncipe D. Pedro. Mas o coração não conhece deveres: Pedro apaixona-se perdidamente por Inês. E o que deveria ser apenas uma paixão palaciana transforma-se num amor impossível — ardente, perigoso e eterno.
Com a morte de Constança, em 1345, D. Pedro I e Inês de Castro passam a viver juntos. Têm quatro filhos, instalam-se em Coimbra e constroem um quotidiano secreto entre o Paço da Rainha Santa e os jardins à beira do Mondego. Mas à sua volta, crescia o medo.
O Amor Que Ameaçava o Reino
Os irmãos de Inês, nobres galegos ambiciosos, começaram a sonhar com a união dos tronos de Portugal e Castela. Para o Rei D. Afonso IV, pai de Pedro, isso era mais do que uma ameaça — era um risco à independência do reino. E os seus conselheiros sabiam o que dizer para alimentar esse medo.
Em 1355, com Pedro ausente, Inês foi levada a julgamento sumário em Montemor-o-Velho. A sentença foi cruel e definitiva: morte por decapitação. No Paço de Coimbra, a 7 de janeiro, a cabeça de Inês tombou — e o mito começou.

A Vingança de Um Amor Sem Fim
Ao saber da execução da sua amada, Pedro enlouqueceu. Iniciou uma guerra civil contra o pai, só terminada graças à mediação da Rainha-mãe. Dois anos depois, com a morte de D. Afonso IV, Pedro sobe ao trono — e declara ao reino: tinha casado secretamente com Inês. Ela era, portanto, Rainha de Portugal.
O que se seguiu entrou para o imaginário coletivo: mandou trasladar os restos mortais de Inês para o Mosteiro de Alcobaça num cortejo solene, exigindo que clero, nobreza e povo prestassem-lhe as honras de rainha. Reza a lenda que o cadáver foi colocado num trono e que todos lhe beijaram a mão — um gesto simbólico de amor absoluto.
Mas a justiça de Pedro ainda não estava completa. Capturou dois dos assassinos de Inês, arrancando-lhes o coração com as próprias mãos — um pelo peito, outro pelas costas. “Quem mata uma mulher inocente, não pode ter coração”, diria o rei apaixonado e vingador.
A Lenda Que Vive Até Hoje
Com o tempo, a história tornou-se lenda. Poetas, romancistas e cronistas deram-lhe forma e emoção. Luís de Camões eternizou-a n’ Os Lusíadas como “a linda Inês posta em sossego”. E a Quinta das Lágrimas, onde brotam ainda algas vermelhas na Fonte das Lágrimas, é hoje um lugar de memória, romance e peregrinação.
Diz-se que foi ali que Inês chorou pela última vez. E que o seu sangue tingiu a água para sempre.
O Amor Imortal
A tragédia de D. Pedro I e Inês de Castro é mais do que um episódio histórico. É uma lembrança viva de que o amor verdadeiro desafia convenções, ultrapassa a morte e se transforma em lenda.
Ela foi a rainha que não reinou em vida, mas que conquistou um trono eterno no coração de um povo.
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