Era uma vez um país pequeno em território, mas grandioso na alma e nos sabores. Portugal, com as suas histórias de descobertas e conquistas, alcançou agora outro tipo de glória: dois dos seus doces mais emblemáticos, o Pastel de Belém e o Pastel de Nata, conquistaram o mundo. Em dezembro de 2024, o TasteAtlas, um guia mundial de gastronomia, elegeu o Pastel de Belém como o melhor doce do mundo, com o Pastel de Nata a seguir de perto no segundo lugar.
Este feito não é apenas uma vitória para a pastelaria portuguesa, mas uma celebração da criatividade, tradição e paixão que têm definido a nossa história ao longo dos séculos.
O Mosteiro e o Nascimento do Pastel de Belém
Tudo começou no início do século XIX, nas paredes do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Naquele tempo, o uso intensivo de claras de ovo para engomar os hábitos dos monges e freiras deixava um excedente de gemas. E assim, com engenho e paciência, os monges criaram um doce que se tornaria lendário: o antecessor do Pastel de Belém.
Mas os tempos mudaram. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o mosteiro fechou as suas portas. Para garantir a sobrevivência, a receita secreta foi entregue a uma refinaria de açúcar próxima, e em 1837 nasceu a famosa Fábrica dos Pastéis de Belém. Desde então, este doce mágico, com a sua massa folhada crocante e o creme de nata aveludado, conquistou corações em todo o mundo.
Hoje, o Pastel de Belém mantém-se envolto em mistério – a receita original continua guardada a sete chaves e apenas preparada dentro da fábrica. Cada pastel que sai dali é mais do que um doce; é uma mordida na história e na tradição portuguesa.
O Pastel de Nata: A Viagem de um Símbolo
Enquanto o Pastel de Belém permanece exclusivo à sua fábrica, o Pastel de Nata seguiu outro caminho. É a versão democratizada desta iguaria, difundida por todo o país e, eventualmente, pelo mundo. Os cafés e pastelarias de Portugal tornaram-se o palco desta delícia, que rapidamente se transformou num hábito: pedir um Pastel de Nata com uma bica tornou-se quase um ritual.
Mas o Pastel de Nata não ficou por aqui. Levado por emigrantes e chefs portugueses, este doce encontrou novas casas em todos os cantos do globo. Seja numa padaria em Paris, num café em Nova Iorque ou num mercado em Tóquio, o Pastel de Nata é o verdadeiro embaixador da doçaria portuguesa, adaptado mas sempre reconhecível pelo seu sabor único e textura incomparável.
A Alma de Portugal em Cada Mordida
O reconhecimento destas iguarias no ranking do TasteAtlas não é apenas uma celebração de sabores – é a prova de que a gastronomia é uma ponte entre culturas e uma forma de contar histórias. O Pastel de Belém, com o seu segredo guardado há quase 200 anos, representa a preservação das nossas raízes. Já o Pastel de Nata, espalhado pelos quatro cantos do mundo, simboliza a capacidade de Portugal de levar a sua essência além-fronteiras.
Estes doces são mais do que receitas: são pedaços da alma portuguesa. O crocante da massa folhada, a suavidade do creme e o toque de canela despertam algo em todos os que os provam. E, em cada pastel, está presente a história de um país que, mesmo pequeno, tem o dom de tocar o mundo.
A Doçura de um Legado
Em 2024, o mundo reconheceu aquilo que os portugueses já sabiam: o Pastel de Belém e o Pastel de Nata não são apenas doces – são pedaços de Portugal.
Quando visitar Lisboa, não deixe de fazer fila na Fábrica dos Pastéis de Belém. E, ao provar o pastel ainda morno, ouça o som da massa a estalar e sinta o creme doce a derreter na língua. Nesse momento, perceberá porque este doce foi eleito o melhor do mundo.
E quando entrar numa pastelaria para pedir um Pastel de Nata, lembre-se de que está a saborear um pedaço da nossa história, agora partilhada com o mundo. É assim que Portugal, com engenho e paixão, continua a conquistar corações – um doce de cada vez.
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